A Concepção Holística de Natureza de Hegel em uma Reinterpretação Moderna
Abstract
RESUMO: O conceito mecanicista de natureza de Descartes, que determinou nosso pensamento até os dias de hoje, tornou-se obsoleta. Já a concepção hegeliana de natureza, idealista-objetiva, e portanto, holística, permite, como veremos, uma interpretação que inclui conceitos modernos, fornecendo-lhes, na verdade, uma fundamentação. Neste artigo, estão contemplados os principais aspectos da concepção hegeliana da filosofia da natureza – espaço e tempo; massa e movimento; força e lei da natureza; o organismo; o problema da evolução; o ser psíquico – assim como as teses básicas de Hegel a respeito da filosofia da natureza, nas quais se manifesta uma tendência à coerência e à idealização, no sentido de uma sucessão gradualmente (categoricamente) ascendente da natureza: desde a separação do espaço à quase idealidade da sensação. Como a argumentação filosófico-natural pretende recuperar o Ser-danatureza concreto, ela deve considerar igualmente as condições de realização, e portanto, é obrigada a adotar elementos empíricos como, por exemplo, aspectos teórico-sistêmicos relacionados ao organismo. Assim, por um lado, assumem-se premissas científico-empíricas (por exemplo, o caráter semelhante à lei da natureza), as quais, por outro lado, tornam-se passíveis de fundamentação no âmbito de uma concepção idealista hegeliana. Nesse sentido, segue-se uma dupla estratégia de concretização científico-empírica e de fundamentação idealista-objetiva, que representa o princípio metódico básico das considerações desenvolvidas. Veremos que, por um lado, abrem-se possibilidades de penetração filosófica relacionadas aos resultados científico-empíricos efetivos, e inversamente, uma reinterpretação da concepção hegeliana com base em uma argumentação física, teórico-evolutiva e teórico-sistêmica também se torna possível. Esse intercâmbio e elucidação mútuos dos pensamentos científicos e ontológico-idealistas também parecem ser uma atualização da argumentação hegeliana em relação à natureza ao mostrar que ela mesma tem uma afinidade com a atual ciência da natureza.
ABSTRACT: The Cartesian mechanistic concept of nature, which has determined our thinking until the present time, has become obsolete. Hegel’s objective-idealistic and therefore holistic conception of nature allows, as is shown, an interpretation including modern concepts and, the other way round, actually gives a foundation to them. In the paper the main aspects of the Hegelian conception of the philosophy of nature are contemplated – space and time, mass and motion, force and law of nature, the organism, the problem of evolution, psychic being – as well as Hegel’s basic thesis concerning philosophy of nature, that therein a tendency towards coherence and idealization manifests itself in the sense of a (categorically) gradually rising succession of
nature: from the separateness of space to the quasi-ideality of sensation. As the natural-philosophical argumentation is intentended to catch up with the concrete Being-of-nature it has to consider the conditions of realization, too, and thus is obliged to take up empirical elements, for instance system-theoretical aspects concerning the organism. So, on the one hand, empirical-scientific premises are assumed (e.g. the lawlikeness of nature), which on the other hand become foundable in the frame of a Hegelian-idealistic conception. In this sense, a double strategy of empirical-scientific concretization and objective-idealistic foundation is followed up, which represents the methodical basic principle of the developed considerations. It is shown that on the one hand possibilities of philosophical penetration concerning actual empirical-scientific results are opened, and the other way round also a re-interpretation of Hegel’s conception on the basis of physical, evolution-theoretical and system-theoretical argumentation becomes possible. This mutual crossing-over and elucidation of scientific and idealistic-ontological trains of thought appears also to be an actualization of Hegel’s argumentation concerning nature by proving itself to have an affinity with the actual science of nature.