Call for Papers: Hegel e Goethe: uma relação entre filosofia, estética e teoria política
2023-11-06
A Revista Estudos Hegelianos recebe até o dia 31 de março de 2025 artigos para a publicação de número temático sobre as relações filosóficas, estéticas e políticas entre Hegel e Goethe. Para além de um enfoque que explore a relação entre ambos os pensadores, também serão muito bem-vindas contribuições que se proponham a expandir aquela ligação para outras figuras e constelações de sua época (a Era de Goethe, o Classicismo de Weimar e a Filosofia Clássica Alemã) ou que os investiguem em termos de uma recepção posterior pertinente (pós-clássica, pós-idealista).
“O Urphänomen” — como se lê no copo que Goethe deu a Hegel em abril de 1821 — “se recomenda de modo mais belo, para uma acolhida amigável, ao Absoluto”. Por um lado, a relação entre Hegel e Goethe (como aquele presente testemunha) é marcada por um profundo reconhecimento mútuo ou mesmo veneração. Por outro, conceitos centrais no pensamento de ambos — como o Urphänomen goethiano e o Absoluto hegeliano — demonstram tensões profundas. Enquanto o Urphänomen de Goethe enfatiza uma intuição imediata da natureza, para o pensamento especulativo de Hegel, a mediação da reflexão conceitual se mostra constitutiva. Tais tensões não negam, contudo, a proximidade significativa de seus interesses: a questão da mediação do singular, particular e universal, que se encontra no centro da lógica especulativa de Hegel, também continua sendo decisiva para a produção poética de Goethe e para o seu pensamento — tanto estético como ético-político. Com efeito, no contexto da conclusão da primeira parte de Fausto — cuja proximidade estrutural e temática com a Fenomenologia do espírito de Hegel tem sido frequentemente assinalada —, Goethe escreve que não há indivíduos que não se relacionem com algo universal: “Todos os indivíduos são também universais: ou seja, este ou aquele, como preferir, é o representante de um gênero inteiro”. E aqui, tanto para Goethe como para Hegel, o individual só pode se tornar não apenas um universal, mas também um indivíduo efetivo quando age e se realiza na plenitude concreta do mundo real, a fim de alcançar a si mesmo. Do mesmo modo, para ambos, a realidade que se abre mediante esta relação com o mundo conectada com a atividade é essencialmente caracterizada por contradição e conflito, pelo desenvolvimento crítico de reconfiguração e transformação: a plenitude concreta do universo configura a si mesma — não apenas para Hegel, mas também para Goethe — unicamente ao passar pelo “espírito de contradição organizado, metodicamente cultivado”, como Hegel sintetiza a dialética em conversa com Goethe. A bem dizer, uma realidade tão intrinsecamente contraditória e plena de tensões encerra, para ambos, um enfoque no presente político e social atrelado à Revolução Francesa e suas consequências: como as agitações e crises da Revolução poderiam conduzir — na Era Napoleônica — à fundação de uma nova ordem social se revela, para ambos, uma tarefa central de importância não apenas teórica, mas também prática. Hegel e Goethe experimentaram enfaticamente o seu tempo como um tempo de profundas contradições e tensões, caracterizado pela transição em curso para uma nova época — a modernidade —, a uma época cujos contornos ainda são abertos e incertos — e ambos refletiram a respeito dessa experiência histórica em suas obras. Este aspecto não é menos responsável pela modernidade persistente de Hegel e Goethe e se inscreve na questão norteadora (para ambos) das condições e possibilidades da arte clássica na era moderna.
O objetivo do foco temático proposto é reunir contribuições originais que investiguem e discutam semelhanças e diferenças na relação entre Hegel e Goethe nos âmbitos da filosofia, da estética, da teoria política e em suas complexas interações. Embora muitos aspectos da relação entre os dois pensadores tenham sido estudados em profundidade na pesquisa clássica, a importância e a atualidade das perspectivas abordadas aqui continuam representando um desiderato nos estudos contemporâneos de Hegel e Goethe. É particularmente a intrigante conexão entre os aspectos filosóficos, estéticos e político-sociais envolvidos nesta constelação que merece uma cuidadosa reconsideração e reatualização.
Contribuidores confirmados:
Francesca Iannelli (Università degli Studi Roma Tre)
Elizabeth Millán (DePaul University)
John H. Smith (University of California, Irvine)
As submissões devem ser feitas pelo site da revista e observando as diretrizes de publicação (https://ojs.hegelbrasil.org/index.php/reh/about/submissions)
Aceitamos textos em português, espanhol, italiano, francês, inglês e alemão.
Prazo para as submissões: 31 de março de 2025
Publicação prevista para o segundo semestre de 2025
Contato: Gregor Schäfer gregor.schaefer@unibas.ch